Já pensou na delícia de um abraço quentinho? Em dois braços que se abrem e nos acolhem colados a um corpo que nos dá morada num momento de sofrimento, de perda, de desorientação e também de alegria, por que não?

Abraço é uma coisa curiosa... Dois corpos cara a cara (existem outros abraços, mas esse é por definição o abraço típico) que se colam e se apertam. Temos a experiência do bem estar que o abraço nos traz. Segundo pesquisas sobre o tema, em cinco segundos o abraço já começa a nos inundar de ocitocina – um hormônio que dá a sensação de prazer. É o princípio da ligação amorosa, o que não é pouca coisa.

Se você está se perguntando se eu estou ligando o abraço à recepção canguru ao bebê, estou sim. Pense bem, o bebê colado ao peito da mãe, pele a pele, com a bolsinha canguru o envolvendo e apertando contra o corpo que o carrega.

Verdade é que o "abraço canguru" transmite essas delícias que o nosso abraço adulto transmite e muito mais. Vejamos o quê.

Retomemos a enumeração que fiz no capítulo 5 dos elementos que dominam o cenário de sua vida intrauterina e que ele perde abruptamente ao nascer.

Primeiro: o bebê ganha o prazer tátil e, o que é muiiiito importante, o calor da mãe que lhe é oferecido. A importância desse calor que vem do outro e ele não precisa produzir. Como fica enrolado em panos – sabemos que tecidos não têm vida e nem calor –, o bebê tem que produzir seu próprio calor.

Desta forma ele exaure na produção de calor a energia que poderia ser utilizada para crescer – lembremos que todos os tecidos estão em acelerado crescimento - e manter a saúde intacta.

O lugar do extero-útero é o mesmo lugar do abraço. E por isso mesmo sinônimo do "abraço canguru". É no meio do peito, entre os dois seios, na posição em pé, a posição de sapinho que colocamos o nosso "bebezinho canguru" para que possa receber a segurança do contato e do calor de um corpo adulto.

Corpo esse que lhe transmite parcialmente aquilo de que ainda tem necessidade. Se ajudado, o bebê vai gradualmente dando conta de fazer seu corpinho produzir tudo o que ele necessita a um custo que não seja o do medo e da perda catastrófica das referências corporais que tinha dentro do útero.

Luciene Godoy - Psicanalista